Ela dava injeções letais e superalimentava os bebês.
Esse foi um caso muito recente, que chocou a comunidade internacional e nós estamos falando de Lucy Letby, uma das assassinas de crianças mais prolíficas de todo o Reino Unido. Ninguém desconfiava da enfermeira, até que todo seu esquema foi descoberto. Lucy recebeu sua condenação em agosto no ano de 2023.
A enfermeira teria um número de vítimas muito maior hoje caso ainda trabalhasse, Lucy não mediu esforços e tentativas para fazer com que esse número aumentasse, até que ela finalmente foi descoberta.
Quem é Lucy?
Lucy, de 33 anos, era enfermeira neonatal de Chester, uma cidade no norte da Inglaterra. Lucy começou a trabalhar na unidade neonatal de um hospital de Chester em 2011. Inclusive em 2013 ela descreveu que seu trabalho era “cuidar de uma ampla variedade de bebês que requerem vários níveis de apoio”.
De acordo com o promotor do caso, antes de janeiro de 2015, às mortes na unidade neonatal do hospital chester eram estatisticamente comparáveis às de outros hospitais. Porém, durante o tempo em que Lucy era enfermeira neonatal, houve um aumento significativo no número de mortes dos recém nascidos.
Além disso, quando as análises dos corpos dessas crianças eram realizadas, não se achava nenhuma justificativa médica plausível para o que havia acontecido.
Desconfiança
Um médico do hospital, Ravi, começou a suspeitar de Lucy, inclusive ele chegou a avisar a administração do hospital sobre suas suspeitas em 2015 e em 2016, mas foi ignorado, enquanto isso Lucy continuava agindo.
O motivo dessa suspeita foi um episódio em específico, em que o médico ficou observando Lucy parada sobre uma criança cujo tubo respiratório estava desalojado e mesmo vendo os níveis de oxigênio do bebê caindo, Lucy não fazia nada, o médico chegou a intervir, mas a criança morreu 3 dias depois.
Alguns outros médicos também suspeitaram do comportamento da enfermeira, porém depois de denunciarem mortes evitáveis de alguns pacientes e expressarem preocupações sobre a morte dessas crianças, eles foram demitidos
Até que a polícia começou a investigar as mortes de 2017, depois de terem sido alertados sobre o comportamento de Lucy, conseguiram prender ela em 2018 e em 2019 por suspeita de seu envolvimento nas mortes, porém nas duas vezes ela foi libertada, até que ela foi detida novamente em 2020 e seu julgamento começou em outubro de 2022.
Evidências
Quando foram realizar uma busca na casa de Lucy, encontraram diversos post-its escritos por Lucy, em uma nota ela se autodenomina como sendo uma pessoa horrível e má, que não não era boa o suficiente, em outra nota havia que ela não tinha feito nada de errado e a polícia não tinha provas e questionava porque ela teve que se esconder.
Lucy também falsificou suas anotações do trabalho para cobrir os próprios rastros. Ex-colegas de trabalho da enfermeira testemunharam contra ela, em 24 de outubro de 2022 um colega testemunhou que a saúde de uma menina, identificada apenas como criança B, começou a piorar rapidamente sob os cuidados de Lucy.
O irmão gêmeo da criança B já havia morrido e quando a menina ficou doente rapidamente, ele achou estranho, porque estava tendo um número elevado de mortes infantis inexplicáveis naquela unidade.
A supervisora de Lucy também prestou depoimento e testemunhou que observou Lucy passando uma quantidade incomum de tempo com um bebê prematuro que ela não havia sido designada para cuidar e esse mesmo bebê declinou inesperadamente de saúde e morreu.
Inclusive, a supervisora também relatou que Lucy passou mais tempo com a família da criança do que com a própria criança. a supervisora até pediu que ela se concentrasse em seu bebê designado porque estava preocupada com ele e deixasse a família com a enfermeira designada, mas Lucy continuou entrando na sala da família algumas vezes.
Teve o caso da criança E, a mãe da criança E testemunhou que encontrou seu filho em estado de angústia, sangrando pela boca, avisou a Lucy, que simplesmente ignorou as preocupações da mulher e disse para confiar nela, já que ela era a enfermeira. Depois de cinco horas, o bebê morreu, assassinado por Lucy, que havia injetado ar na corrente sanguínea da criança.
A enfermeira também escreveu um cartão de condolências para outro casal cujo filho ela matou, dizendo que foi um privilégio cuidar da criança deles e conhecê-los como família.
Em um caso de tentativa de homicídio, Lucy tentou assassinar uma criança, conhecida como Criança G, enquanto a enfermeira designada para o bebê estava de folga. Sob os cuidados de Lucy, o bebê recebeu “muito mais leite do que o prescrito”. Depois de feita a análise, o perito afirmou que a superalimentação não poderia ter sido um acidente, mas sim uma “intenção de prejudicar”. Esse bebê sobreviveu, mas outros sete não. Em outro caso, quando uma criança estava em perigo, Lucy “repreendeu” um colega de trabalho que tentou ajudar.
Em abril do ano de 2023, os jurados viram imagens do diário de Lucy durante seu julgamento, no diário havia as iniciais das crianças que ela matou, alguns dos nomes dos bebês também foram escritos e ao lado de alguns deles Lucy tinha escrito alternadamente mate-me e não sei se os matei.
Acusações
Lucy foi acusada de assassinar sete crianças e de tentar matar mais 10 entre 2015 e 2016. As sete mortes foram causadas pela administração excessiva de leite, ar, insulina ou líquidos. Entre as vítimas estavam dois bebês de um grupo de trigêmeos, Criança P e Criança O. A criança O sofreu “deterioração aguda”.
A criança H, o terceiro trigêmeo, recebeu excesso de ar e líquido, colocando sua vida em risco. Lucy supostamente fez duas tentativas de assassinar o bebê prematuro. Porém, o bebê foi retirado do hospital por insistência dos pais e surpreendentemente teve uma “recuperação rápida”.
Algumas das crianças mortas sobreviveram a diversos ataques antes de morrer.
Outro bebê, conhecido como Criança G, sobreviveu a três ataques, seus pais testemunharam no tribunal. Eles acreditam que Lucy superalimentou intencionalmente o bebê com leite e ar, levando a “danos cerebrais irreversíveis” e paralisia cerebral tetraplégica.
No julgamento, ao apresentar seus argumentos finais, o promotor do caso disse que Lucy usou injeção letal de ar em pelo menos 12 de suas supostas vítimas e afirmou que a injeção de ar era uma das formas favoritas da enfermeira de matar ou tentar matar crianças.
Lucy se declarou inocente de todas as 22 acusações e foi considerada culpada de 14 das 22 acusações que enfrentou após um julgamento que durou 10 meses, ela foi condenada em agosto de 2023 à prisão perpétua.
Os sobreviventes
Muitas das famílias das vítimas enfrentam preocupações de saúde física e mental ao longo da vida enquanto tentam aceitar o que aconteceu aos seus filhos.
Existem implicações importantes para a sobrevivência dos cuidados futuros dos jovens, alguns pais expressam receios em relação à confiança e à proteção. A mãe do bebê N disse que seu filho estuda em casa pois eles não conseguem confiar em mais ninguém para cuidar do filho.
Lucy deixou muitos bebês gravemente incapacitados com necessidades complexas. O bebê G, por exemplo, é cego, tem paralisia cerebral e escoliose progressiva. Seu pai disse que ele precisa de cuidados substanciais e que sua mãe só dorme cerca de duas horas por noite.
Outro tema recorrente nas declarações das vítimas foi o impacto que os ataques de Lucy tiveram sobre os pais. Teve um pai de gêmeos que sofreu colapsos mentais e lutou contra o álcool e pensamentos suicidas.
A mãe de uma das crianças assassinadas contou que fez terapia e tomou medicamentos nos últimos seis anos para lidar com a morte da filha.
Inclusive, a identidade dos bebês e de suas famílias foram protegidas, por isso durante todo o vídeo foram utilizadas apenas letras para se referir às vítimas e diferenciá-las, foi esse o modo utilizado pelo tribunal para proteger essas famílias.
Os pais de Lucy
Lucy era filha única e teve uma infância onde ela era a menina dos olhos de seus pais, inclusive os três tiravam férias três vezes por ano juntos, mesmo Lucy já sendo adulta. Eles estiveram ao lado da filha desde o momento em que ela foi associada pela primeira vez a um aumento repentino de mortes infantis.
Lucy se tornou o primeiro membro da família a se formar e seus pais ficaram tão orgulhosos que publicaram um anúncio no jornal local em que diziam estarem muito orgulhosos da filha, eles fizeram o mesmo quando Lucy completou 21 anos.
Depois de se formar, Lucy se mudou para a cidade em que havia feito faculdade, o que foi uma grande angústia para seus pais, mas mesmo assim eles ajudaram a filha a comprar um apartamento de 3 quartos no valor de 179 mil euros, onde ela morava com seus dois gatos.
Porém, os pais de Lucy odiaram o fato dela não ter retornado para casa quando terminou a faculdade, algo que ela admitiu que a fazia sentir-se “constantemente culpada”.
Os pais de Lucy apoiaram ela desde a primeira vez em que suspeitaram da filha, inclusive quando Lucy foi presa, a mãe pediu que levassem ela no lugar de sua filha, e seu pai arrumou a cama da filha após ela ser levada para a prisão.
Especialistas sugeriram que, tendo sido adorada pelos pais durante toda a infância, Lucy sentiu necessidade de chamar a atenção por outros meios após se mudar, mas isso é apenas uma das diversas teorias do porque ela fez o que fez.